Tantas formas revestes, e nenhuma
Me satisfaz!
Vens às vezes no amor, e quase te acredito.
Mas todo o amor é um grito
Desesperado
Que apenas ouve o eco…
Peco
Por absurdo humano:
Quero não sei que cálice profano
Cheio de um vinho herético e sagrado.
Poema publicado originalmente no livro Penas do Purgatório, de 1954, 11o. livro de Miguel Torga, pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha, poeta e escritor português. De família humilde, trabalhou na infância de porteiro, jardineiro e faxineiro. Foi seminarista e fez faculdade de Medicina. Seu primeiro livro de poemas, Ansiedade, é de 1928. Morou no Brasil entre 1920 e 1925 (dos 13 aos 18 anos). O pseudônimo Miguel Torga homenageia os escritores espanhóis Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno e a planta urze torga (ou urze), típica das montanhas de sua região, cuja raiz se estabelece na rocha.