Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
(Luís Vaz de Camões foi poeta português do século 16 (1524-1580), boêmio e brigão. Frequentou a corte de Dom João III e se autoexilou na África por causa de um amor frustrado. Se alistou como militar e perdeu um olho em batalha. Após um período preso em Portugal por conta de uma briga, viajou pelo Oriente, onde passou vários anos combatendo por seu país. Dessa experiência nasceu Os Lusíadas, seu trabalho mais famoso.)