De onde vem esta memória, revelando mundos
revirando tudo, como se fosse um tufão?
A varrer, cuspindo entulhos
num erguer e demolir de muros
Nas esquecidas e despovoadas ruas de meu coração?
De onde vem essa memória
às vezes festa, às vezes fúria
num abrir e fechar de portas
louca procura de respostas, mistura de murmúrios
fonte de delícias e torturas?
Onde anda, agora, essa memória?
No mundo da lua, brincando de soltar subterfúgios
a ficar na rua, se fazendo de surda e me deixando assim
um dia, um ser perdido em lutas e outro
um pobre menino
a flutuar sonhos absurdos?
Onde anda essa memória
a que horas chegará, como sempre, obscura
com suas preciosas falhas
que recolho agradecido
para traçar o rumo de minhas canções?
Velhas estórias, memórias futuras?
Sei de onde vem, já sei por onde andou
saiu para de trocar de roupa, não pode andar nuaAmo o oceano que retém no fundo
os mistérios de sua natureza
(Poema de Paulinho da Viola no encarte do disco Memórias Chorando, nono álbum de estúdio de Paulinho da Viola, lançado em 1976 simultaneamente com Memórias Cantando)