As imagens não me saem da cabeça. Cada cena da animação O Conto dos Contos, do russo Yuri Norstein, é delicadamente estruturada numa teia onírica, te envolvendo num universo mágico, poético, sublime. Poderia gerar angústia, porque se você não é russo provavelmente ignora boa parte das referências culturais ali apresentadas. Mas o fascínio é maior. E que luz é essa que o Norstein consegue?! Transforma todos os espectadores em insetos, hipnotizados pelos muitos pontos luminosos de seu trabalho – no sentido literal e figurado.
Sério, estou sendo hiperbólico de propósito, porque o que eu vi ontem na última sessão do primeiro dia da Mostra de Animação Russa, no CineSesc, está além do que eu possa descrever. Não à toa o cara é considerado um dos melhores animadores de todos os tempos, uma espécie de Tarkovski do gênero, e O Contos dos Contos, que é de 1979, foi agraciado com diversos prêmios internacionais, sendo considerado uma das melhores animações já feitas – inclusive por seus colegas americanos (o que é um feito e tanto, considerando que ainda estávamos na Guerra Fria)
A história não tem uma coerência narrativa aparente, sendo pontuada por diversas referências da cultura russa e da história do próprio autor – memórias de infância dele, por exemplo. Este texto que encontrei no The Guardian faz uma análise bem boa da animação.
Mas enfim, veja o filme abaixo. Sugiro por em tela cheia e ver num ambiente mais escuro possível, para que haja o contraste necessário. A iluminação dele é coisa mais linda de se ver!