– Tenho uma defesa secreta, sr. Wormold. Interesso-me pela vida.
– Eu também, mas…
– O senhor se interessa por pessoas, não pela vida, e as pessoas morrem ou nos abandonam… Desculpe-me. Não me referia à sua esposa. Mas, se estivermos interessados na vida, ela jamais nos decepcionará. Eu me interesso pelo tom azulado do queijo. O senhor não faz palavras cruzadas, não é, sr. Wormold? Eu faço, e elas são como as pessoas: a gente chega a um fim. Posso terminar qualquer palavra cruzada no espaço de uma hora, mas tenho uma teoria, quanto ao tom azulado do queijo, que jamais chegará a uma conclusão… embora, claro, a gente sonhe que, talvez, possa chegar um momento em que…
– Preciso ir embora, Hasselbacher.
– Devia sonhar mais, sr. Wormold. A realidade é algo que não se deve enfrentar.
(Trecho do romance Nosso Homem em Havana, de 1958, do escritor e jornalista inglês Graham Greene. Publicou cerca de 60 livros em sua carreira, muitos dos quais tendo a espionagem como tema. Seu primeiro sucesso foi O Expresso do Oriente, de 1932.)