Essa polêmica toda sobre simplificação (ou adaptação) da obra do Machado de Assis feita por uma escritora, para facilitar a leitura da obra do escritor carioca pelas novas gerações, gerou um bafafá danado nas redes sociais.
Há quem defenda a ação, afirmando que isso é algo que já se faz há tempos com obras clássicas (Júlio Verne, Mark Twain, etc) para atrair o interesse de novas gerações; e há quem critique veementemente, porque o texto de Machado não deveria ser alterado em hipótese alguma, que adaptar textos significa render-se aos padrões anêmicos de leitura que temos hoje, e por aí vai.
Sou #TeamAdaptação. Obras clássicas não devem virar monólitos sagrados, intocáveis a partir do momento que o original é publicado. Ainda mais quando o texto em questão entra em domínio público. Adaptar ou simplificar obras clássicas para as novas gerações estimula a leitura e facilita até mesmo para nós, burros-velhos – experimenta ler Camões, Gil Vicente ou Shakespeare no original, sem atualização de palavra alguma e depois me diz se não é complicado pacas… Eu mesmo li alguns dos clássicos da literatura, como A Letra Escarlate (do Nathaniel Hawthorne) e O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë) em quadrinhos, da série Classic Illustrated.
Detalhe: os textos de Machado de Assis estão em domínio público e sendo assim podem ser alterados, simplificados, adaptados por qualquer um, sem autorização de ninguém. Mas é de bom tom, claro, avisar de que não se trata do texto original.
Enfim, os textos clássicos são tão importantes que podem e devem chegar à população das mais variadas formas – em adaptações para cinema, histórias em quadrinhos, programas de TV e até mesmo jogos de tabuleiro. Tem espaço pra todos. Só assim se eternizam no gosto popular – vide histórias dos irmãos Grimm. Engessar os clássicos na sua forma original é um desserviço à literatura. Que se multipliquem em formas e versões! Que cheguem às próximas gerações em linguagem miguxês, tatibitati ou língua do P. O destino de todo o texto é esse: fragmentação. Da história, da linguagem e até da autoria. A sacralização fetichista de textos e autores clássicos não é apenas estúpido – é inútil.
Essa discussão toda me lembrou Ítalo Calvino, em seu livro Se um Viajante numa Noite de Inverno:
Transportemo-nos em pensamento para daqui a três mil anos. Deus sabe que os livros de nossa época terão sobrevivido, de que autores ainda se lembrará o nome. Alguns livros terão ficado célebres mas serão considerados obras anônimas, como o é para nós a epopéia de Gilgamesh; haverá autores cujos nomes permanecerão célebres, mas dos quais não restará nenhuma obra, como é o caso de Sócrates; ou ainda, todos os livros que terão sobrevivido serão atribuídos a um misterioso autor único, como Homero…
Concordo e já utilizei adaptações com meus alunos. De que outra forma os faria se interessarem por Os Lusíadas, por exemplo? Enfrentei a direção da escola e venci. Sempre recomendo, no entanto, que leiam os originais, mais tarde, adultos e mais amadurecidos e críticos.
abraço, garoto
pois é, Denise. Essa grita com a simplificação do Machado é meio elitista, a meu ver. Eu li muitos clássicos simplificados/adaptados na minha infancia (9, 10 anos), e agradeço minha mãe por ter me comprado as coleções.
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