Jornalismo brasileiro virou RP do Estado Islâmico

O inexplicável horror
De saber que esta vida é verdadeira,
Que é uma coisa real, que é [como um] ser
Em todo o seu mistério
Realmente real.

(Fernando Pessoa)

piloto

Em setembro de 2014, reproduzi aqui um artigo do Financial Times que mostrava o enfraquecimento das empresas de comunicação e consequente crescimento das empresas de relações públicas. Esse crescimento já interfere diretamente na produção do conteúdo jornalístico – dentro e fora da grande imprensa.

De forma vil, jornais brasileiros e alguns sul-americanos (como o argentino Clarín) comprovaram essa tese da maneira mais trágica possível. Ao publicarem imagens dos piloto jordaniano sendo queimado vivo pelos radicais do Estado Islâmico – nos seus portais na internet ontem e na capa dos jornais hoje -, a grande imprensa brasileira se transformou em RP dos facínoras. Tudo que o EI queria com a filmagem da execução de Muath al-Kasaesbeh era ver as imagens circularem mundo afora, aterrorizando corações e mentes. E eles contam, sempre, com a falta de escrúpulos da grande imprensa, que faz tudo por mais audiência – ainda mais em tempos bicudos.

Divulgar as imagens da execução desrespeita a vítima e sua família, alimenta a ânsia de sangue da audiência e não acrescenta coisa alguma à notícia. Totalmente desnecessário. E torpe.

PS.: Acabei de consultar a página Newseum, que tem as capas de 915 jornais desta quarta-feira. Além dos grandes jornais brasileiros (com exceção de O Globo, diga-se de passagem), apenas o Clarín argentino e o Ethnos grego publicaram a foto de Muath queimando vivo dentro da jaula em suas capas.

 

 

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