Capineiro de meu pai
Não me corte os meus cabelos
Minha mãe me penteou
Minha madrasta me enterrou
Pelo figo da figueira que o Passarim beliscouCompanheiro que passas pela estrada
Seguindo
Pelo rumo do sertão
Quando vires
A casa abandonada
Deixe-a em paz dormir
Na solidãoQue vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atiras no seio ao passar
Vai espantar o bando, o bando buliçoso.
Das mariposas que lá vão pousarEsta casa não tem lá fora
A casa não tem lá dentro
Três cadeiras de madeira
Uma sala a mesa ao centroEsta casa não tem lá fora
A casa não tem lá dentro
Três cadeiras de madeira
Uma sala a mesa ao centroRio aberto barco solto
Pau d’arco florindo a porta
Sob o qual ainda há pouco
Eu enterrei a filha morta
Sob o qual ainda há pouco
Eu enterrei a filha mortaAqui os mortos são bons
Pois não atrapalham nada
Pois não comem o pão dos vivos
Nem ocupam lugar na estrada
Pois não comem o pão dos vivos
Nem ocupam lugar na estradaNada
A velha sentada o ruído da renda
A menina sentada roendo a merendaNada, nada, nada, nada, nada, nada, nada.
Aqui não acontece nada não
Nada
Nada
Nada
Nada absolutamente nadaE o aguapé lá na lagoa
Sobre a água nada
E deixa a borda da canoa
Perfumada
É a chaminé à toa
De uma fábrica montada
Sob a água que fabrica
Este ar puro da alvorada
Nada, nada, nada, nada, nada, nada
Aqui não acontece nada não
Nada
Nada, nada, nada, nada, nada, nada
Nada absolutamente nada.
(Versão gravada no disco Soro, de Fagner, lançado em 1979 (ouça aqui o álbum completo), e posteriormente regravada no disco Objeto Direto de Belchior (de 1980 – aqui o álbum completo). A canção teve como inspiração o poema A Cruz da Estrada, de Castro Alves, de 1865.)
Essa letra – Aguapé – faz um nó em minha garganta… Um dia desamarro, esse (des)amparo.
Demais, e a emocao q os dois passam?
Sempre pensei em escrever um ensaio (ou qualquer tipo de texto) sobre Aguapé…
O momento (in)certo?
Só sei que urge e urra, como uma memória antiga que reverbera das vozes do Fagner e do Belchior.
Pois escreva! Realmente o canto deles revolve a gente