(fonte: Blog da Cosac Naify)
Fiz uma caminhada hoje de quase três horas, por Pinheiros e Vila Madalena, procurando sempre serpentear e evitar as vias já conhecidas, virando naquela esquina que sempre passa batida, entrando em lojas que só percebemos quando estamos a pé, parando pra tomar algo no boteco simpatico que surge de repente.
E fui reparando nas pessoas. Seus olhares, caminhos, estilos. São tantos personagens interessantes! O barbeiro de cara boa que cortou meu cabelo na Capote Valente, os mendigos que me pediram cigarro na esquina com a Teodoro Sampaio, a gatinha subindo apressada a rua, o taxista encostado no carro esperando o próximo cliente, a perua em seu carrão impaciente com os pedestres que insistem em atravessar calmamente na faixa do cruzamento, o livreiro do sebo que me ajudou a encontrar um livro, a menininha se lambuzando com um sorvete, para desespero de sua avó (?), a velha senhora do sobradinho com placa para alugar.
Ao contrário do personagem do livro A Janela de Esquina do Meu Primo (E.T.A. Hoffmann), que li ontem a noite, procurei interagir com algumas das figuras que cruzaram meu caminho – e não ficar apenas observando de longe, como faz o escritor inválido da história de Hoffmann, que fica da janela do seu quarto olhando de binóculo as pessoas que circulam pela grande feira da praça em frente. Estava mais para o personagem do conto O Homem na Multidão (o link é do conto na íntegra, vale ler), do Edgar Allan Poe, mas com interação, sem querer passar incógnito. Queria ouvir as vozes, trocar informação (minima que fosse), dar e receber sorrisos, interferir de alguma forma em suas vidas. Provavelmente nenhum de nós terá lembrança alguma desse encontro fortuito no futuro próximo, mas a reflexão que fiz a cada troca certamente contribuirá para o que sou e serei.
A multidão não é amorfa, desde que você se embrenhe nela e faça contato. Todo homem é uma ilha, e por isso devemos construir pontes. Sempre.
E Roberto Carlos já dizia:
Entro no meu carro e a solidão me dói.
Jorge, pensar que o O Pasquim perdeu Tarso de Castro, Henfil, Francis e agora Millor. O Rio perde muito de sua carioquisse. E Sampa continua no estilo linhagem selvagem.
Lindo lindo seu texto, escriba.
É isso ai, meu caro Brito. Mas é tudo questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo. E vamoquevamo! 🙂
Obrigado, Maitê! 🙂