Redação moribunda

“Parece um necrotério”, diz Martin Gee, designer do San Jose Mercury News, ao comentar as fotos que tirou da redação do jornal. Me fez lembrar meus tempos de JB (1993 e 1997-2002), naquele prédio gigante na Avenida Brasil, 500, que foi esvaziando, esvaziando, até ser abandonado de vez pelo jornal. Era estranho ver as baias sendo abandonadas, virarem depósitos, sem a perspectiva de serem ocupadas novamente. Mas enfim, sinal dos tempos.

O San Jose, como muitos outros nos EUA e no mundo, vem definhando desde que a internet ganhou força como fonte de informação. E muito se especula sobre o futuro dos jornais. Serão eles gratuitos como a maioria dos portais de internet? Desaparecerão das bancas? O (tu) barão da imprensa Rupert Murdoch e a The Economist têm boas pistas do que está por vir.

De minha parte, sinto alguma saudade daquele mafuá que era a redação, mas não lamento o seu fim. A produção e distribuição de informação mudou muito de lá pra cá – e, a meu ver, para melhor. Cada vez mais queremos saber o que fulano ou sicrano tem a dizer sobre um assunto, e o meio pelo qual ele fará isso é o que menos importa. A embalagem pode ser bonitinha, mas ordinária. O que vale é o conteúdo. O efeito colateral é a excessiva fragmentação, mas antes isso do que a massa monolítica que molda a informação de acordo com interesses de uns poucos. A grande mídia ainda controla os principais canais, é fato, mas não tem mais o controle total das amarras. Soltaram o bicho e ele corre solto. O jeito é reaprender a andar. Mesmo que aos 70 anos.

Aos que lamentam o fim dos jornais, já dizia Belchior:

Você pode até dizer que estou por fora
Ou então que estou inventando
Mas é você que ama o passado e que não vê

É você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem

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6 Responses to Redação moribunda

  1. Avatar de Thiago Mattos Thiago Mattos disse:

    Essa discussão é mto interessante.
    O que sobreviverá após a internet?

    Só pra deixar registrado: acho muito importante e legal quando vc escreve e deixa os links com as referências. Dá uma grande diferença.
    Abs.

  2. Avatar de fábio josé de mello fábio josé de mello disse:

    “O novo sempre vem”. Ainda bem.

  3. Avatar de Neto Neto disse:

    Então, Cordeiro, o novo sempre vem, por isso acredito que o jornal vai sobreviver. Claro, precisa mudar muita coisa e seguir uma tendência que é criticada pelos dinossauros, mas só assim terá espaço.

  4. Avatar de Anatê Anatê disse:

    Muitas redações se modificaram para acompanhar o novo ritmo, mas ainda estão muito longe da velocidade que impõe a internet. Não devemos esquecer que muita gente acreditou que a chegada da TV determinaria o fim do rádio, mas o veículo soube se adaptar e evoluir para não desaparecer. Fico torcendo para que com os jornais o processo seja o mesmo.

  5. Avatar de escriba escriba disse:

    O jornal, Anatê, não tem os mesmos recursos tecnologicos que a rádio e a TV tiveram para resistir aos avanços de uma tecnologia mais moderna. E a internet vem atingindo nao apenas os jornais, mas também a TV e a rádio. É totalmente cross-over…

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