“O escritor é a mais solitária das pessoas. Eu pensava nisso à saída do supermercado quando avistei uma mulher belíssima. Estava postada exatamente na entrada dos caixas, vestida de preto, o cabelo preso por uma fita, olhando calmamente para um ponto indefinido, como se nada estivesse acontecendo – apesar de lá fora, na rua, estarem passando carros, crianças, policiais e até os bombeiros com a sirene ligada. Nem isso chamou sua atenção ou pareceu pertubá-la. Uma mulher com ar de quem é absolutamente íntima de incêndios.
E eu pensando na solidão dos escritores. E, por que não, na dos cientistas, músicos e pintores. Talvez mesmo um arquiteto, debruçado em sua prancheta, alinhando retas, ordenando paralelas, seja um cara sozinho naquele momento. Enfim, o homem é uma criatura solitária. Muito embora viva procurando se amparar nas mais diversas coisas. Até mesmo numa página em branco.”
Trecho do conto Onze Jantares, que integra o livro coletânea Famílias Terrivelmente Felizes, de Marçal Aquino.
