Estilo de vida

Está no ar mais um artigo de Rex Weyler, escritor, jornalista e ecologista, sobre a história do ambientalismo e, por tabela, do Greenpeace. No texto deste mês, Weyler discute o consumo consciente e a importância de termos a noção de que o planeta é finito, seus recursos idem, mas a voracidade humana não. Ou mudamos isso ou vamos todos pro buraco – ricos, pobres, ecologistas, desenvolvimentistas, políticos, cidadãos e quem mais por aqui estiver.

Ele lembra os estudos feitos pelo economista britânico Thomas Malthus sobre a sinuca de bico que enfrentamos por conta do crescimento populacional desmedido. Temos cada vez mais gente no planeta, que consome e desperdiça de montão e só pensa em ter mais e mais. A atual crise dos alimentos é apenas a ponta do iceberg desse imenso problema. Mais pela tacanhice de governos e empresas que apostam num modelo falido de agricultura industrial do que pela falta de soluções. E isso vale para toda a cadeia de produção existente. Ela não é sustentável, reciclável, justa, equitativa, bem distribuída e geradora de riqueza, pelo contrário.

Na segunda-feira, em Bruxelas, o Greenpeace fez um protesto pra lá de divertido contra o lobby da indústria automobilística que prefere colocar o clima em xeque a perder alguns caraminguás de lucro. Desfilando pelas ruas da cidade belga com um carro similar ao da família Flintstones, os ativistas criticaram as empresas de carros que sabotam há anos a adoção de leis na Europa que reduzam as emissões de carbono de seus veículos. Para essas empresas, a tecnologia (etanol, carros híbridos, etc) vai nos salvar – como os transgênicos acabariam com a fome e os computadores reduziriam o consumo de papel e salvariam as florestas. Nada disso aconteceu, mas a mesma mentira continua sendo vendida como panacéia a todos os males ambientais. Até quando?

Do jeito que levamos a vida atualmente, a questão não é se vamos desaparecer, mas quando. Temos tempo para mudar isso? Talvez. Se não dermos o primeiro passo, sempre o mais difícil, não rola mesmo. Já deu o seu?

Pra facilitar, traduzi 12 idéias apresentadas por Weyler em seu artigo, compiladas por ele em textos de pensadores ecológicos como Arne Naess, filósofo e montanhista norueguês; Paul Shepard, ambientalista americano; Rachel Carson, ambientalista, escritora e cientista americana; e Bob Hunter, jornalista canadense, um dos fundadores do Greenpeace; entre outros. São os fundamentos da ecologia profunda, em que nós, seres humanos, não somos nem melhores nem piores do que tudo o mais que existe no planeta. Só a convivência harmoniosa entre seres vivos e meio ambiente garantirá nossa sobrevivência. Vamos às idéias:

1 – A importância do valor intrínseco do selvagem, natureza, diversidade, simbiose e complexidade, independentemente dos desejos humanos ou sua existência.

2 – Tudo na natureza existe em sistemas interligados. Nenhuma espécie opera independentemente. A unidade de sobrevivência da evolução é “espécies-em-um-ambiente”, co-existindo com todos os outros sistemas de vida.

3 – O senso humano de ‘ser’ expandiu-se para incluir esses sistemas vivos. A popular noção de economia em que as pessoas agem como perseguidores privados de felicidade permanece como um conceito trágico, destinado ao fracasso.

4 – Biocracia: expandindo a idéia de ‘direitos’ para todas as coisas, mas mais importante para o sistema ecológico em si, e portanto limitando a interferência humana na natureza.

5 – A natureza não é um ‘recurso’: Os elementos da natureza que chamamos de ‘recursos’ também fornecem recursos para tudo o mais que vive no planeta e têm valor em si mesmos. Um rio é uma parte viva de um sistema, não apenas um ‘recurso’ para servir a propósitos humanos.

6 – Desenho ecológico: nossas ferramentas devem imitar e trabalhar com os hábitos, leis e desenhos da natureza. Têm que ser 100% recicláveis, usar o mínimo de energia possível, integrar sistemas vivos, ter baixo impacto e assim por diante.

7 – A destruição da ecologia de suporte traumatizou a humanidade e levou os pobres a mais pobreza e desolação e os ricos à ansiedade, vício e violência. É preciso tempo para curtir a montanha, o litoral, a floresta, como parte de um período de auto-medicação. Toda perda de lugares selvagens reduz o bem-estar humano.

8 – Justiça social, igualdade de gênero e paz internacional: guerra, sexismo, racismo e injustiça não apenas causam sofrimento direto mas também contribuem para catástrofes ecológicas.

9 – Diminuir a população humana: a civilização humana que entende a natureza limitará sua interferência no planeta reduzindo seu tamanho. Um passo positivo para tal é reduzir, nos próximos dois séculos, talvez, a população humana para cerca de 1 bilhão de pessoas – mais ou menos o equivalente à população mundial no século 19. Os direitos das mulheres à contracepção poderia contribuir para atingirmos esse objetivo. A discussão sobre a população mundial envoca direitos humanos, direitos culturais, racismo e imigração. Quem tem o direito de dizer a outros humanos para que não se reproduzam? A resposta é que o planeta Terra tem o direito e o exercerá se nós não o fizermos. Uma população humana excessiva reduz a qualidade de vida e de tudo o mais.

10 – Simplicidade: aprender a melhorar a qualidade de vida das maneiras mais simples e com menor interferência na natureza. Isso requer uma mudança de expectativas, a redescoberta do prazer da simplicidade e um ambiente de apoio – os prazeres da natureza, paz, comunidade, família e criatividade. Menos coisas, mais paz de espírito.

11 – Ação: não resolveremos nosso dilema com filosofia e slogans apenas. A nova sociedade humana ambiental requer ação em todos os níveis. Primeiramente, precisamos proteger a vida selvagem e relocalizar a sobrevivência humana.

12 – Desde o advento dos impérios, agricultura e vida urbana, a humanidade tem procurado pelo paraíso em vários lugares errados – em riqueza, poder, dinheiro e reinos invisíveis além do tempo e do espaço. Nós humanos parecemos ter um senso inato de mistério, mas fracassamos em idolatrar o que nos sustenta, que é o planeta.

(Para ler o texto de Rex Weyler na íntegra, clique aqui)

A natureza tem valor, leis e limites. Não adianta apenas colar uma etiqueta ‘verde’ em nossas ações e mantê-las iguais ao que eram antes. Há quem diga que isso tudo é pregar o fim de confortos duramente conquistados pela humanidade. Balela. Ir à padaria de carro não é questão de conforto, mas de preguiça. Ter zilhões de eletrodomésticos em casa para fazer a mesma coisa não é prático, é ostentação oca. Se empanturrar de carne e depois tomar um monte de remédio pra curar doenças esquisitas é tão estúpido quanto viver reclamando do trânsito de São Paulo e nunca pegar um ônibus ou trem, alegando que não são transportes de qualidade.

Vai, somos mais inteligentes do que isso… Ou continuaremos a ser apenas macacos?

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1 Response to Estilo de vida

  1. oba jorge,
    há tempos que não visitava, realmente andava meio restringido na navegação.
    hoje encontro teu blog tudo verdinho, com letras pretas sem destaque, que dificultam a leitura ao ponto de ter que desistir.
    oba, descobri, tem que abrir ‘comentários’, aí dá pra ler certinho.

    abç
    e-e_x

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