Mais Sócrates, menos Friedman

No Natal de mais alto consumo em 10 anos também houve espaço para manifestações anti-consumo. Papais noéis ativistas invadiram o Rio-Sul, no Rio de Janeiro, para provocar socraticamente as pessoas que circulavam pelos corredores do shopping. “Vc consome ou é consumido?”, perguntavam os bons velhinhos aos incrédulos de carteiras cheias e cabeças vazias que circulavam alucinados pelos corredores em busca de um alento numa TV nova ou em mais um brinquedo para o mimado pirralho parar de encher o saco.

A venda de carros também vai de vento em popa no Brasil, foram quase 2,5 milhões este ano. E segundo estudo realizado por cientistas da Universidade Oxford Brookes, o mundo produzirá mais carros nos próximos 25 anos do que em toda a história da indústria automobilística! O resultado a gente sente nas ruas e no ar que respiramos. Estima-se que em novembro de 2012, São Paulo terá o engarragamento final – com ou sem rodízio.

Nos EUA, 99% do que é comprado vai para o lixo em seis meses. O Brasil chega lá, ô se chega… Empresas gastam os tubos em anúncios mostrando o quão responsáveis e sustentáveis são, desde que isso tudo não interfira em seus negócios, claro. Consumo sustentável, só se for do jeito deles – depois a tecnologia resolve, afirmam categoricamente.

E a imprensa dá corda. Viu a Superinteressante especial que está nas bancas? Ambientalismo bom é aquele que não muda nada do que vem sendo feito, apenas espera o milagre tecnológico chegar e nos salvar. É o mesmo discurso de Bush Jr. e companhia.

A certa altura da matéria de capa, a sardinha amestrada dos (tu) barões da editora Abril afirma com todas as letras: proibir tecnologias poluidoras, que ameaçam o meio ambiente e nossas vidas, seria como proibir o telégrafo para que o telefone tivesse vez. Só não entendi qual a ameaça que o telégrafo representava em seu tempo… E as demais matérias vão pela mesma linha, sempre tangenciando o real problema: ou mudamos o jeito como lidamos com o planeta agora, ou vamos todos para o buraco.

Não à toa a revista é recheada de anúncios de empresas petrolíferas, automotivas, telefonia, bancos, etc. Me entristeceu muito ver um anúncio do Greenpeace na última capa. Sei que foi doado, pois o grupo não paga publicidade. Mas aquele ter o anúncio ali é como se o Greenpeace avalizasse tudo o que está escrito na publicação – e é justamente o oposto!

A tecnologia limpa e sustentável só vingará na indústria, agricultura, no mercado consumidor se rigorosas medidas regulatórias forem tomadas, obrigando esses setores se adaptarem. Foi assim com a proibição do despejo de lixo nuclear nos oceanos e o banimento do gás CFC (que destruía a camada de ozônio) e do DDT, entre outros. Se deixarmos tudo nas mãos do deus mercado (e dermos ouvidos ao seu papagaio de pirata, a imprensa), não vamos sair do lugar.

Precisamos de mais Sócrates e menos Milton Friedman.

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6 Responses to Mais Sócrates, menos Friedman

  1. Avatar de Palmiro Guruguru Palmiro Guruguru disse:

    Caro Escriba
    E a transposição do Velho Chico? desta vez a web se calou diante da nova transamazônica, um mecanismo (a meu ver) para enfiar dinheiro não sei onde e acabar com o nosso Rio São Francisco. Vc. tão próximo do Greenpeace o que pode me informar quanto ao posicionamento desta organização? Tem alguma informação sobre a drenagem de uma região do Iraque – por Foi Enforcado Sadam Tarde Hussein – para acabar com uma etnia oposicionista? Li algo a respeito na Folha de S. Paulo no final do milênio passado.

    O que Luis LI quer fazer com o Velho Chico é sacanagem.
    FELIZ 2008.
    Desculpe a tentativa de anonimato, mas depois da condenação dos boxeadores ao paraíso cubano e da leitura do Livro negro do Comunismo, me pelo de medo da esquerda!
    Cordialmente,
    Palmiro Guruguru
    P. S. Muito boa a análise da Super!

    Tudo de Bom!
    P. G.

  2. Avatar de escriba escriba disse:

    Palmiro, não me incomoda em nada ter comentarios anonimos por aqui, os publico todos. Só nao concordo com a argumentacao que usa para explicar sua atitude. Vivemos num pais democratico e que o quer ser ainda mais. Temos finalmente um governo que nao se preocupa apenas com um pequeno setor da sociedade. Sou Lulista, com orgulho.
    Quanto ao velho chico, o GReenpeace é contra o projeto de transposicao, por considerar que há projetos melhores e mais baratos para revitaliza-lo. Já eu acho que será impossivel agradar a gregos e troianos, independentemente do projeto a ser tocado. Acho tb que é possivel e desejavel fazer tanto a transposicao como a revitalizacao, atendendo às comunidades ribeirinhas, os que sofrem com a seca e tambem à industria rural que precisa de agua para o seu negocio – se nao me engano, principalmente de frutas.

    E só um alerta: se vc leu na FSP, desconfie… sempre…
    um abraço
    jorge

  3. Avatar de Patricia Patricia disse:

    Olá, li esse texto no lista 3 setor, mas preferi deixar meu comentário aqui. Gostei muito de tudo que escreveu, mas só discordo de uma coisa: eu acredito que organizações como o Greenpeace precisam, sim, publicar seus anúncios em revistas como a Veja. Não faria sentido estimular alguma sensibilizaçãpo ambiental em publicações voltadas especificamente para um público engajado, não é?

    Em tempo, ADOREI seu blog! Voltarei com certeza!
    Um abraço!

  4. Avatar de Alan de Faria Alan de Faria disse:

    Olá Jorge, tudo bom?
    entrei em seu blog quase sem querer, por meio de uma pesquisa sobre o “Verão da Lata”… estou procurando informações sobre isso, que ocorreu na segunda metade da década de 80, quando tinha pouco mais de três anos.

    e gostei do que li… tanto que colocarei seu site em meus “favoritos”. Sobre o post em questão, embora ainda tenha muito o que colaborar com o meio ambiente (e acredito que é bom ter essa consciência), decidi que não irei comprar carro – sonho de todo “novo adulto” que, com o dinheiro ganho por meio do trabalho (sou também jornalista!), que colocar ter um carro para passear pela cidade.
    no entanto, na cidade de SP, onde resido, não há mais a tal hora do rush e o ar… bom, este sofre há bastante tempo…

    e já iniciei a campanha entre meus amigos: não compre carro… mas, se já o tiver, dê carona. E, qq coisa, vá para a balada de ônibus ou táxi: sai mais barato e ainda vc pode beber…
    até mais

  5. Olá, Escriba, tudo bem? Me chamo Paulo, sou de Belo Horizonte, tenho 29 anos, faço ciências sociais e me preocupo extremamente com questões ambientais.
    Escrevo-lhe porque gostei muito desse post seu e gostaria de reproduzí-lo em meu blog (www.lutkenhaus.blogspot.com), com a devida referência à sua pessoa (como autor do mesmo) e, além disso, do link da fonte original, ou seja, deste site seu. Você me autoriza a publicação deste em meu blog?

    Desde já convido-o a também dar uma visitadinha nele.
    Um grande abraço e feliz 2008 sustentável!
    Paulo H. M. Lütkenhaus

  6. Avatar de escriba escriba disse:

    Mete bronca, Paulo. Pode publicar sim.
    abraços!

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