A história que Hollywood não conta

Tá certo que filmes como Os 300 de Esparta não são parâmetros para se discutir história, mas também não podemos subestimar a capacidade que eles têm de deturpar os fatos nas mentes de quem vai ao cinema. A grande maioria dos espectadores sai da sala escura certa de que aquilo é a história real. O cinema vem há tempos substituindo com grande eficácia os livros de história no inconsciente coletivo e isso é perigoso pacas. No filme baseado na HQ do Frank Miller (que eu curto, apesar dos pesares, mais pela estética do que pelo conteúdo), os persas são mostrados como um povo grotesco, sangüinário e cruel. Nada mais falso, como podemos comprovar com esse documentário aí de cima. Os caras conquistavam mas não escravizam (pelo contrário, libertavam povos subjugados, como os judeus na Babilônia, o que rendeu a Ciro, o grande, o título de messias na Bíblia), liberavam o culto religioso, pagavam os trabalhadores que erguiam palácios e criaram algumas das mais interessantes obras de engenharia de todos os tempos, como os sistemas de canais para aproveitar água do subsolo ou a ponte de barcos usada por Dario I para invadir a Grécia pelo estreito de Bósforo.

Não acredite no hype. Nunca.

(valeu pela dica, Igor!)

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6 Responses to A história que Hollywood não conta

  1. Avatar de contra contra disse:

    Partindo do pressuposto de que não existe História Real, já que nos é impossível a objetividade total, toda História é construção. Não seria diferente com livros de História acadêmicos, quanto mais em filmes de Hollywood. É claro que a indústria cinematográfica estadunidense tem especial interesse em dar sua versão “da História”, seja dos ataques a Pearl Harbor, seja da guerra do Peloponeso. O cinema norte-americano (que age, por vezes, como importante braço da indústria bélica) é muito mais acessível (e interessante) para a maioria da população mundial do que as discussões acadêmicas; está aí, na minha opinião, o grande lance: contar história é ordenar o mundo; e seduzir o planeta com cores, sons, imagens e um mundo perfeito ao alcance das mãos é muito mais eficaz (e lucrativo) do que milhares de bombas despejadas sobre a cabeça. E essa é, talvez, a grande lição retirada da História pelos EUA; exemplo inclusive dado pelos persas que como disse “conquistavam mas não escravizam (pelo contrário, libertavam povos subjugados, como os judeus na Babilônia, o que rendeu a Ciro, o grande, o título de messias na Bíblia), liberavam o culto religioso, pagavam os trabalhadores que erguiam palácios e criaram algumas das mais interessantes obras de engenharia de todos os tempos, como os sistemas de canais para aproveitar água do subsolo ou a ponte de barcos usada por Dario I para invadir a Grécia pelo estreito de Bósforo”. Ou seja, o imperialismo mais eficaz é aquele que seduz.

    Abraços!

  2. Imperialismo mais eficaz é aquele que seduz. Perfeito! Mas o grande X da questão é: seduz com qual propósito? O de Ciro, o Grande, era nobre. De Alexandre, o Grande, idem. Roma, até certo ponto, também.
    O que temos hoje? Um império militar corporativo que só tira, não dá nada. A barbárie nunca fez tanto sentido…

  3. A história real é mesmo um processo em constante construção, mas o que estamos vendo hoje é a deturpação às claras de fatos, admitida em público como ‘licença cinematográfica’, na cara dura. Até para se contar a história havia antes o pudor, entre alguns, de se manter fiel aos fatos e às nuances morais. Ninguém era 100% bom nem 100% mau. O que se conta hoje é uma grande disneilândia: maquiada, oca e plastificada.

  4. Avatar de Beto Beto disse:

    Ah, isso é verdade. Os Persas, bem como os Fenícios, foram os povos que mais contribuiram para a humanidade. Só não tiveram o “marketing” dos gregos e dos romanos. É como a religião, se qualquer outra religião tivesse o mesmo poder de persuasão da católica, hoje seríamos budistas ou mulsumanos. Enfim, como disse Raul: “Falta de cultura para cuspir na escultura…”

  5. Avatar de ernesto ernesto disse:

    a diferença que observo é que nem musulmanos nem budistas ostentam essa ‘missão evangelizadora’ dos cristãos; ficam na deles, respeitam as outras crenças [e os outros crentes] e não tentam se impor sobre elas/es. isso, claro, diminui o potencial de crescimento.
    aprendi cedo que a história não se aprende no cinema hollywoodiano. os discípulos de goebbels se multiplicam e hoje nem precisam mais repetir 1000 vezes uma mentira para o povão acreditar nela. basta assistir um filme uma vez só.

    a coisa ta [baixo calão]
    e-e_x

  6. O islamismo e o budismo são as religiões que mais crescem, ernesto. Isso deve significar alguma coisa…

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